O NOBRE PEDINTE
Faz uma concha com tuas mãos,
pondo a água que te resta,
e me dá de beber.
Sacia minha sede avolumada
por tantas duras jornadas
com o extrato da tua fraternidade esquecida.
Beberei da tua bondade desvelada,
há tanto tempo guardada,
exercitando teu novo ser.
Deixe que eu toque a tua pele com a minha,
carcomida e envelhecida.
E essas gotas de empatia,
que você nem sabia que possuía,
multiplicarão oceanos.
Hidratarão tua garganta ressequida
pelo silêncio da indiferença,
aprendido com o materialismo da vida.
Mostrarei que a minha invisibilidade
não é fruto do meu fracasso,
e sim o rebento da insensibilidade.
Curarei teu vazio
com o unguento do teu próprio gesto
de minimizar minha agonia.
Perceberá que eu e outros diante de ti curvados
apenas cumprimos a nobre missão
de inquietar tua apatia.