Novembro de 1904 – A Revolta da Vacina ou Quebra-Lampião.

Charge da revista O Malho, de 29/10/1904.
Leônidas/Acervo Fiocruz

Novembro de 1904 – A Revolta da Vacina ou Quebra-Lampião.     

Se deu no Rio de Janeiro contra a obrigatoriedade da vacina anti-varíola e em protesto à imposição da reforma urbana pelo governo de Rodrigues Alves (representante das oligarquias cafeeiras) que, para modernizar a cidade, fez obras que provocaram demolições e deslocamentos de parte da população. Coerente com a repulsiva obviedade da nossa história de desigualdades, pobres, na sua grande maioria negros, foram expulsos de suas casas sem indenização ou qualquer outro tipo de acomodação.

A então capital da República, palco das disputas políticas de envergadura nacional, crescia de modo desordenado, acumulando lixo nas ruas e construções irregulares, apresentando um aumento populacional que disputava o páreo com ratos e mosquitos, proliferando-se doenças como peste bubônica, varíola e febre amarela.

Pegando carona nesse ambiente infernal, a oposição ao governo ressaltava sua leitura do viés despótico da lei que obrigava a vacinação – cujas medidas de higienização se davam com o vasculhamento dos lares por autoridades sanitárias intrusivas – e instigava a revolta popular com o argumento de que a “invasão” de pessoas estranhas para desinfecção das suas casas também os tornaria vulneráveis às doenças da época. Para engrossar o caldo, juntou-se ao movimento um segmento militar revoltoso que queria a derrubada do governo. Isso tudo foi o combustível que inflamou o embate entre polícia e manifestantes e que resultou na depredação de edifícios, bondes e dos lampiões que faziam a iluminação pública, além de gerar um número elevadíssimo de prisões e algumas dezenas de mortos. Não custa lembrar que nessa época opositores ao governo espalharam a mentira de que quem tomasse a vacina anti-varíola ficaria com o semblante de uma vaca.

Passaram-se quase cento e vinte anos e temos na pandemia do coronavírus um presidente que, ao contrário de Rodrigues Alves, não intenciona modernizar o país ou coibir a proliferação do vírus, e ainda cria várias fake news acerca do tratamento da doença (situação sob investigação do Congresso em maio de 2021). E para manter o tom do seu descaso, lança o deboche de que ao se tomar a vacina viraremos jacaré. A oposição política ao governo e setores lúcidos da sociedade contestam tais absurdos se valendo do arcabouço científico que desmonta essa narrativa estúpida.

Ou seja, invertem-se os papéis dos portadores das mensagens, mas o resultado é sempre o mesmo: um país inteiro subjugado pela manipulação política, pela ignorância científica e pela falta de humanidade na condução das políticas públicas. Mas desta vez, um vírus está fazendo festa vestido de verde e amarelo, enquanto o povo brasileiro enterra as muitas centenas de vítimas desse massacre sanitário, que é chancelado com o selo governamental.

       “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades.” Cazuza, faço minhas suas palavras atemporais.

Referências históricas:

www.dci.com.br – Jornal Digital, Colaborativo e Independente

https://atlas.fgv.br/verbetes/revolta-da-vacina – Atlas Histórico do Brasil – FGV CPDOC

Buenas ideias! – canal do Eduardo Bueno no Youtube.com – A Revolta da Vacina.

 

Referência opinativa: “Meu arquivo pessoal e transferível”.

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Biografia da autora

Sou livre pensadora e gosto de escrever.
Tenho curiosidade por tudo o que é imaterial e permeia a vida
humana na Terra e em outras dimensões.
Tenho formação na área do Direito, mas prefiro trafegar por vias
transversas e imprecisas.
Gosto de quem gosta de ideias e está se esforçando para ampliar sua
consciência como ser humano.