O CHORUME QUE ESCORRE DAS TUAS PALAVRAS
A decomposição do que já não era amor
contamina meu solo,
o chão de terra batida
da minha casa de pau-a-pique.
Fétidas, tuas putrefatas palavras
tentam me adoecer,
confundindo minha identidade borrada
que esqueci em algum lugar em que me perdi.
Rasgam, tuas palavras,
minhas asas finas de borboleta.
Abafam o meu canto,
socando minha voz garganta adentro.
Violentam minhas entranhas
num labirinto de espelhos,
em que corro dos teus fantasmas,
projetados em mim.
E ninguém,
ninguém,
enxerga a fúria dissimulada
nas tuas palavras duras
que só eu escuto,
que só eu decifro.
Que me achatam.
Que me matam.
Devagarinho.
Numa tortura lenta e escondida.
Bem direcionada.
Elaborada.
Vil.
Como que aprendida nos métodos de tortura
da ditadura militar do Brasil.