LUTO
Choro
a partida sem adeus.
A presença assídua de um corpo ausente.
O lapso incalculável entre a próxima e a última palavra trocada.
A temporalidade insuportável do nada.
Reconfiguro o presente como um enorme depósito de passado,
transmutando um pretérito imperfeito
em mais que perfeito.
Resgato, diuturnamente, da memória o jeito,
o semblante e as virtudes, amando os defeitos.
Desacatando a autoridade do tempo
com um nocaute no esquecimento.
Refaço, passo-a-passo,
minutos precedentes que desviariam a rota de corte.
Brigo. Inquiro. Depois, me reconcilio com Deus
tentando entender o sentido da morte.
Recomponho a vida
como um vaso raro roto,
colando os cacos.
Faltando pedaços.
Todo dia, luto.
Todo dia luto!