O NÓS EM MIM
Se a minha essência é binária,
em matizes graduais sutis ou não,
meu corpo tampouco tem que ser o polo
de um gênero só.
Quem comanda a mim?
A alma, que vagueia por séculos
em um corpo e noutro,
ou a matéria presa a um padrão
em que não cabe mais?
Eu não sou apenas ela.
Eu posso ser ele também.
Eu fluo na mistura dos dois.
Na confluência do animus e da anima
que resulta em multiplicidade de potencialidades.
Eu evoluo no conflito das sombras,
no domínio da sabedoria
sobre o instinto animal.
Eu sou determinante na progressão coletiva
e me somo ao todo no desastre global.
Eu sou ele
e ela na dor.
Eu sou todas as variáveis deles
nas percepções sensoriais
e naquilo em que estou.
No sexo.
No choro.
No riso.
No Eu Sou.
“Seja ela, ele e todos os outros”,
acima de mim, diz uma voz.
“Viva o que há de vida plena
que habita na esfera do nós.”
Poema do livro “Quem tem ódio das borboletas?”