A MATA NA CIDADE DE PEDRA
Furo
a paisagem de cimento
com o olhar que enxerga para dentro.
Incorporando
um aborígine com sua mirada para a lua
que a floresta enfeita.
No mais profundo da noite
em que a força do sol espreita.
Troco
as sirenes e gritos da Pauliceia na madrugada
por ruídos sincrônicos do silêncio da mata
no meu imaginário em fúria.
Onde meu eu primitivo mantenho desperto
marretando edifícios que escondem corpos celestes
e sequestram meus sonhos para o deserto.
Ignoro
o asco exalado pelo rio morto,
invocando o cheiro vivo das águas,
o trabalho ininterrupto da terra,
o verde adormecido e orvalhado
e a bicharada liberta,
mostrando que sou mesmo é dali.
Um humano
que é terra,
que é bicho,
que é verde e
que é água.
Que mora na cidade de pedra,
mas desagua a alma no mato, na selva.