VOA, BORBOLETA!*
Rompeu os limites do casulo,
ousando sair do degredo da favela.
Desafiou a estrutura branca.
Ergueu irmãos caídos e deu voz aos rejeitados.
Fez sua a dor das irmãs negras.
Defendeu direitos de humanos aviltados.
Borboleta da esperança.
Dominadores desfecharam-lhe a ira.
Predadores de um estado paralelo
ramificado no poder oficial.
Sua arma era a justa palavra,
pelo que foi covardemente baleada.
Tiros desferidos contra
mulheres, negros e pobres,
em uma única ação planejada.
Borboleta abatida em pleno voo!
Indignados com a injustiça,
cidadãos de todos os matizes
preservaram-lhe a memória,
ressuscitando suas asas pelo rastro de sua história.
Foi, então, mais vezes atingida
pelos tiros das falas de detratores,
devotos da besta transfigurada em mito,
que usa sagradas palavras para mascarar delitos.
O pairar de uma borboleta negra e fêmea,
com autonomia sexual, desafiando ainda!
A relevância dessa mulher borboleta
foi por ter sido plenamente humana,
com senso de justiça à flor da pele.
Voa, Marielle[1]!
* Poema do livro Quem tem ódio das borboletas?
[1] Marielle Franco foi socióloga e vereadora pelo Rio de Janeiro. Covardemente assassinada aos 38 anos de idade por ser quem era: mulher, negra, líder política e defensora dos direitos humanos.