NESTES TEMPOS
Que o meu choro
recicle as aguas paradas da indiferença do outro.
Que as chagas, o fim do corpo
e as sequelas do outro
sejam o ancoradouro da minha empatia.
Que nossos olhares perdidos se encontrem na agonia
e se unam para construir uma nova morada
neste planeta mãe,
que habita a casa do pai.
Nestes tempos
de ruína coletiva,
que uma nova ordem,
transpondo ideologias,
vingue como fruto
da soberania da existência singular.
Firmando valores universais que resguardem direitos individuais.
Que a cor
não seja motivo de dor.
Que a orientação prevalente,
em qualquer sentido,
seja uma escolha intocável do indivíduo.
Que a fome de comida
seja banida da Terra pelos ávidos de justiça.
Que a equidade na distribuição de renda
seja valor moral
e não um pressuposto de regime econômico.
Que desigualdade vire verbete anacrônico.
Que saibamos aninhar nossas diferenças
no berço aquecido da benevolência.
Que as vozes de alguns não se imponham
sobre a voz de cada um
ecoada no todo.
Nestes tempos
em que a descrença
um futuro distópico vaticina,
que o zelo pela unicidade das individualidades
seja a nossa vacina.